terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Post felino

Nem gordo nem magro, rajado, parecia limpo e estava bem acomodado sobre uma almofada no canto do quarto.

Sozinho no apartamento, assim encontrei um gato, gato bicho, felix domesticus, quando voltei de uma ida à banca de revistas.
Como entrou no apartamento o gato, não sei.

Minha reação não foi de medo, foi de surpresa. Até porque o gato, tranquilo, olhava para mim com um ar de
- Oi, tudo bem, tudo certo, ‘tamos aí ...

Gatos costumam caçar ratos e então pensei que o gato aparecido poderia estar - em meu apartamento? – à caça de algum daqueles deputados que duplicaram seus salários.

Preocupado com isso, rápido, fui até onde escondo o porco-cofrinho responsável pela guarda da poupança para garantir minha aposentadoria. Alívio. Intacto, o porcofrinho.

Nenhum sinal de parlamentarrato.

Então, fechei todas as portas do apartamento, menos a que dá acesso à saída, enrolei uma camisa em volta do pescoço – gatos metem as unhas em lugares muito delicados - pronunciei “xiuiu, xiuiu,xiuiu” várias vezes e a segurar um banquinho de plástico para enfrentar o gato na hipótese em que ele se transformasse em tigre, atraí o bicho para fora da minha jaula, digo, residência.

Enquanto lentamente eu fechava a porta o gato dirigiu um olhar magoado para mim e, tenho certeza, pensou bem alto:

- Pô, que sacanagem...

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