segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Veneno do baiacu e peixarias pudendas

Baiacu é peixe de carne alva e leve, sabor marcante mas delicado.
Famoso por inchar enormemente quando ameaçado, baiacu é mais famoso ainda por ser portador de terrível e fatal veneno.

O veneno é a Tetrodoxina que baiacu possui numa bolsa próxima ao seu aparelho digestivo. Essa bolsa é retirada por pescadores e peixeiros experientes antes da venda do bicho ao distinto público. No Brasil não há estatísticas sobre mortes causadas por baiacu mas que elas acontecem, acontecem.

No Japão, onde o peixe tem o nome de fugu e é utilizado no preparo de pratos muito procurados, baiacu/fugu é caso de saúde pública e causa, segundo estimativas, cerca de 50 mortes a cada ano.

Eis o que está em página online* da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo:

Fugu no Japão é um problema de saúde pública pois faz parte da culinária tradicional. É considerado uma guloseima preparada e vendida em restaurantes especiais com indivíduos treinados e licenciados capazes de remover cuidadosamente as vísceras para reduzir o perigo de envenenamento. “

Com baiacu já preparei moqueca.
Quem comeu quase morreu. Não por causa da Tetrodoxina que Colored, da Praia do Suá, garantiu a mim - "pode comer tranquilo" - que tinha sido retirada.
Quase morreram de prazer gustativo inenarrável, como diria o jornalista CBR. Desculpem.

Por falar nisso, como preparei, moqueca – vide Aurélio – leva dendê e leite de coco.
Aqui no Espírito Santo é preparada deliciosa e especial peixada mas não moqueca a despeito do arroubo ufanista-culinário de Cacau Monjardim, orgulhoso autor do pouco simpático bordão “moqueca é capixaba, o resto é peixada”. Resto?

Bem. Semana passada estive em Marataízes para visitar casal amigo e numa manhã dei boa caminhada pelo balneário, forte ponto pesqueiro do Espírito Santo.

Mineiros assolam, digo, chegam aos milhões às areias capixabas durante o verão. Não sei se a TFM-Tradicional Família Mineira tem algo a ver com a coisa, mas ao passar em frente a duas peixarias vizinhas, vi, numa placa em frente a cada uma, a palavra baiaco.

Baiaco, pensei, porque? Que bicho é esse?

Entrei em uma das peixarias e procurei esperar até um cliente ser atendido.
Demorava o troco pro moço, o peixeiro veio até mim, O que o senhor deseja? apontei para a placa falei Baiaco é o mesmo peixe baiacu? É, respondeu com olhar fixo e contido sorriso miúdo o peixeiro.
E porque escreveram baiaco, e não baiacu? Mudo ficou o peixeiro e deu um passito para a direita o freguês ao meu lado.
Perguntei rápido para o comerciante Não escreveram baiacu por causa disso?
O peixeiro pegou o veneno no ar: É, é por causa disso mesmo.

Agradeci e saí com certeza que baiacu rende mesmo muita história.

* Leia mais sobre baiacu e tetrodoxina aqui.

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