sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Aumento de passagens de ônibus, didáticos homens públicos e estudantes

Pelo terceiro dia estudantes foram às ruas de Vitória ontem, quinta, 25, protestar contra o aumento das passagens de ônibus.

A movimentação da moçada tem declarado grande apoio da população que, no último dia 20, recebeu do Secretário de Transportes, Arthur Neves, cândida justificativa - deu em A Gazeta - para o aumento de 9,67% logo após aprovado pela sua Secretaria:

- "É um índice nacional [evasão de usuários de ônibus entre 15% e 20%]. As pessoas estão usando menos ônibus e passando a se deslocar mais a pé e de bicicleta".

Então:
Como as pessoas acham que ônibus está caro e usam menos ônibus e mais o pezão ou bicicleta, a solução, segundo Arthur, é aumentar o preço das passagens.
Solução, claaaaaro, para o Secretário Arthur e empresários de transportes.

A propalada visão social dos administradores públicos fica então parada no ponto enquanto o povo anda mais a pé ou de bicicleta.

Não causaria espanto Arthur também declarar:

- Caminhar e pedalar bicicleta é bom para saúde.

Esse Arthur é mesmo didático.

Porém, não mais que o finado governador capixaba Zé Moraes.

Lá pelos anos 80, em dias que a população de Vitória esperneava, tal qual hoje, contra aumento das passagens de ônibus, repórter televisiva entrevistou o supremo mandatário do Espírito Santo.

- Governador, a população está irritada com o aumento, muitas pessoas dizem que não conseguirão pagar o novo preço das passagens. O que o senhor tem a dizer?

Zé Moraes, olhar perfurante para a jornalista:

- Quem não conseguir pagar ônibus, pegue um táxi.

Zé Moraes foi um homem público muito sugestivo.

Bolas de gude derrubam militares

Na década de 60, junto a milhões, ia eu para as ruas derrubar a ditadura.

Coração de estudante, ouvia os discursos inflamados em frente ao Colégio Central e depois fazia parte dos que percorriam as ruas de Salvador levando cacetadas e carreirão da polícia.

Algo me intrigava. Antes das passeatas, enquanto pipocavam os discursos, alguns estudantes pediam dinheiro para comprar bolas de gude. Muitos davam dinheiro e alguns, mais diretos, entregavam logo um punhado de bolas que eram recolhidas em sacos de pano.
Calouro em passeatas, tinha vergonha de perguntar para que eram as bolas de gude mas um dia eu vi.

Estávamos na Rua Chile aos brados, armados com faixas de morim contra a opressão, corajosos do alto de prédios até jogavam papel picado e uma horda de militares partiu firme e forte - bota forte nisso - em nossa direção, baionetas mirando os narizes juvenis. Espalha, espalha, berravam alguns quando ouvi Pra ladeira,vamos pra ladeira, pra ladeeeiraaa. Asma soprando fino pelos meus ouvidos acompanhei, zonzo, o monte de gente que correu para uma ruela transversal à Rua Chile. Ruela que tomava inclinação de uma daquelas ladeiras que só baiano enfrenta sem pensar na vida.

No alto dos 50 graus, paramos. Lá de baixo vinha uma carga de cavalaria cada cavalo do tamanho de uma kombi cavalo montado por outro, digamos, quero dizer, montado por um garboso militar bufando, digo, respirando sôfrego (!). Às nossas costas chegavam, animados, os policiais a pé. Então, o berro de comando Joga as bolas, joga as boooolaasss! e rolaram milhares de bolas de gude ladeira abaixo. A cachoeira de bolinhas fazia os cavalos empinarem, relincharem e caírem e junto caiam bravos e atordoados policiais.

Então, inacreditavelmente, a turma correu atrás das bolas de gude desviou como pode das porradas solenes e descambou no fim da ladeira que dava pra outra ladeira e quando percebi estava dentro duma casa humilde na Ladeira da Montanha. A dona da casa fechou a porta, serviu água pra gente Não têm juízo, meninos, esses homens matam vocês.

Tinha razão. Mas quem viveu, viu.

E tem que contar.

Certo é que até hoje não consigo olhar para uma bola de gude sem lembrar, sorrisinho satisfeito, daquela gloriosa manhã.

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