quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Preconceito, normais, anormais e adoção de crianças

Carlos Brickmann, em 15/1/2008

"PRECONCEITO PURO
Os normais, os anormais e a igualdade de todos


A imprensa cobriu quase tudo: a adoção de um bebê por um casal estável de homossexuais, unidos há mais de seis anos; o bom tratamento que o bebê recebe, passando da quase desnutrição, quando foi adotado, até hoje, quando atingiu o peso normal para a idade; a intervenção das autoridades, retirando o bebê do casal que o adotara, sob a alegação de que os dois rapazes, por seu homossexualismo (e um deles é travesti), "não são normais". E para a criança, prossegue a argumentação, bom mesmo seria ser criada por um "casal normal".

O que faltou cobrir:

1. Há "casais normais" à espera de bebês grandinhos para adotar? Ou o bebê terá de ficar nos berçários estatais, à míngua de carinho, mofando enquanto espera que alguém "normal", casado com alguém "normal", o venha buscar?

2. A afirmação de que o casal homossexual "não é normal" não caracterizaria a homofobia (discriminação por orientação sexual)?

3. Como qualificar uma pessoa como "normal" ou "anormal"? Júlio César, imperador de Roma, esplêndido comandante militar, excelente escritor, dizia-se "marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos". Sócrates, o filósofo ateniense, costumava aproximar-se de garotos bonitos (e teve um caso com o general Alcibíades, que comandou as tropas de Atenas e de Esparta). Esparta, aliás, dona do mais feroz exército entre todas as cidades gregas, estimulava o homossexualismo entre seus soldados. Será "anormal" a civilização greco-romana?

4. Olhe para o Aterro do Flamengo, no Rio. Quem o concebeu foi Lota de Macedo Soares, por muitos anos casada com a poeta americana Elizabeth Bishop. O protetor político de Lota foi um dos ídolos do conservadorismo brasileiro, o maior tribuno que este país já teve: o governador Carlos Lacerda.

5. Já que falamos em personalidades mundiais, há um líder político e militar que se notabilizou pelo comportamento "normal". Não bebia, não fumava, não andava com homens, foi fiel à mulher de sua vida e com ela se casou antes de morrer. Este parâmetro da normalidade se chamava Adolf Hitler.

Em casos de adoção, um critério deve estar acima de todos: o interesse da criança. De um lado, duas pessoas, homossexuais, amorosos, carinhosos, dedicados, que talvez não sejam os pais ideais para o bebê. De outro, nada.

Talvez seja este o grande ponto falho de toda a cobertura: faltou mostrar, entre preconceitos e definições apressadas, qual o interesse da criança."

Fonte: Observatório da Imprensa – 15-01-08

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