sábado, 24 de fevereiro de 2007

Aquele amante, digo, aquela censura à moda antiga

Amigo meu afirma que Roberto Carlos já não existe, a alva figura que se vê hoje é um efeito especial da Rede Globo.
Ele lembra de um Roberto "de verdade" que nas décads de 60, 70 e até 80 realmente encantava ouvidos e corações com musiquinhas, umas realmente agradáveis, bem arranjadas.
Outras "obras musicais" foram sob encomenda para momentos convenientes.
Como o Roberto Carlos das "baleias desaparecendo por falta de escrúpulos comerciais (!), durante o boom ecológico.

Nessa mesma musiquita balear, o hoje patético rei dizia querer ser "civilizado como os animais".
Perdeu boa oportunidade para isso.
De tanto espernear e choramingar e reclamar e chiar e chorar, um juiz, à moda antiga, resolveu proibir, a pedido de Roberto Carlos, sua biografia "não-autorizada", de autoria do historiador Paulo Cesar de Araújo.

Reproduzo abaixo ótimo artigo, de Lilian Matsuura, sobre a tal proibição.
Deu na Revista - online - Consultor Jurídico.

No final do texto grifei um trecho lapidar. Lapidar com todo respeito, naturalmente.
"Araújo escreve com responsabilidade e com a desenvoltura só possível porque não se trata de uma biografia autorizada. Quem ganha é o leitor e a história. Mesmo que o ídolo não goste."

"Volta da censura
Juiz carioca manda recolher biografia de Roberto Carlos
por Lilian Matsuura

A biografia Roberto Carlos em Detalhes deve ser retirada de todas as livrarias do país dentro de três dias. De acordo com o juiz Maurício Chaves de Souza Lima, da 20ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro, a Constituição Federal dispõe que são invioláveis a intimidade, a vida privada e a imagem das pessoas. A sentença se baseou no artigo 5º, inciso X, da Constituição. Pedido semelhante feito pelo advogado do rei tinha sido negado pelo juiz da 20ª Vara do Fórum Criminal de São Paulo.

"A biografia de uma pessoa narra fatos pessoais, íntimos que se relacionam com o seu nome, imagem e intimidade e outros aspectos dos direitos da personalidade. Portanto, para que terceiro possa publicá-la, necessário é que obtenha a prévia autorização do biografado", justificou o juiz.

A obra escrita pelo historiador Paulo Cesar de Araújo foi publicada sem autorização do cantor. Roberto Carlos disse que leu apenas trechos do livro, o que foi suficiente para que ele condenasse toda a obra. Ele declarou que se sentiu ofendido e concluiu que houve invasão de privacidade com a divulgação de histórias sobre a sua vida. Roberto Carlos em Detalhes conta a trajetória do cantor, sem omitir fatos dolorosos como a amputação de parte de uma perna, sua relação com a atriz Myriam Rios e a morte de Maria Rita, sua última mulher.

Em entrevista coletiva, Roberto Carlos disse que: “o livro tem coisas não-verdadeiras, que ofendem a mim e a pessoas queridas, expostas ao ridículo. É um absurdo, uma falta de respeito lançar mão da minha história, que é um patrimônio meu. Me sinto agredido na minha privacidade. Isso me irrita, me incomoda, me entristece”.

O cantor foi defendido pelo advogado Marco Antônio Bezerra Campos.

Segundo o advogado, trata-se de uma decisão judicial incomum. "O importante é que preserva os direitos da personalidade e a verdadeira liberdade de expressão", declarou.

Em caso de descumprimento da decisão, o juiz determinou multa diária de R$ 50 mil.

Procurada pela Consultor Jurídico, a Editora Planeta informou que ainda não recebeu notificação oficial sobre a decisão. Enquanto isso, não vai se
pronunciar.

Crítica


À parte o descontentamento do biografado, o livro de Paulo César Araújo contém méritos inegáveis, reconhecidos pela maioria dos críticos.

Trata-se de um levantamento muito bem documentado de toda a trajetória do cantor e compositor desde seu nascimento em 1941.

Além de reconhecer e colocar em destaque a importância de Roberto Carlos na história da música popular brasileira, faz ainda uma muito bem elaborada contextualização da obra de Roberto Carlos na história e na música do país.

O autor relata com acuidade tabus da vida do ídolo, como o acidente ferroviário que resultou na amputação de uma de suas pernas quando tinha 6 anos de idade. Mas em nenhum momento faz explorações indevidas ou sensacionalistas dos fatos.

Inverdades, como Roberto Carlos afirma existir, não são facilmente detectáveis. Se há, estão muito bem fundamentadas e explicadas.
Araújo escreve com responsabilidade e com a desenvoltura só possível porque não se trata de uma biografia autorizada. Quem ganha é o leitor e a história. Mesmo que o ídolo não goste."
Fonte: Revista Consultor Jurídico - 23/02/07

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